Seja como for, admito que às vezes, quando ele me faz passar alguma vergonha, finjo que não o conheço, mas quase sempre nem quero saber o que os outros pensam. Aliás, habituei-me aos comentários, aos olhares e às ideias erradas que as pessoas criaram dos deficientes e por isso mesmo criei uma opinião bastante forte sobre este assunto. Apesar de nunca me sentir muito à vontade para partilhar isto com as minhas amigas. E elas, provavelmente, também não devem ter muito boa opinião dele, Mas não quero saber. O problema é delas.
Mas acho o Rafael com capacidades. Ele sabe ler e fazer contas simples, consegue fazer algumas coisas bem em Educação Física e tem uma capacidade melhor do que muitas pessoas têm: é muito observador. Por isso mesmo, já antes de mim ele sabia como trabalhar com o leitor de cassetes, e com o lava-loiças e as máquinas de lavar secar roupa. Mesmo hoje nunca tenho muita paciência para aprender este tipo de coisas. Ele, por outro lado, aprende quase tudo por observação e por isso mesmo foi tão importante eu nascer, para que ele me pudesse imitar. Além de que ele é bastante meigo e conversador com as pessoas. Basicamente, o que não sabe fazer compensa com outras coisas.
Por isso mesmo, é sempre preciso fazer um enorme esforço para não responder às pessoas, quando falam do meu irmão. As velhinhas, por exemplo, têm sempre a mania de o achar um "coitadinho"!!! Irrito-me bastante com este tipo de coisas, mas mesmo assim tento sempre não ligar e até compreender as opiniões dos outros. Embora a ignorância seja sempre uma coisa irritante!
Seja como for, já houve quem me perguntasse se eu tinha vergonha em ter um irmão deficiente ou comentasse que deve ser complicado o caso do meu irmão. Sinceramente, não é. Os problemas, aliás, são é relacionados com a incompetência da "minha" escola em relação não só ao meu irmão como a outros deficientes. O meu irmão costuma ter a noção do que faz, pelo que deve pagar pelos seus erros e ser castigado e repreendido, tal como os outros! E também ser tratado como igual. E, tal como aos outros, devemos dar-lhe a oportunidade de aprender coisas e arriscar mais. E não estar sempre a ajuda-lo e a "protegê-lo". Porque aí é que ele se torna mesmo um "coitadinho"! E isto é aplicável para a maioria dos deficientes.
Concluindo, escrevi este texto para tentar que quem o leia compreenda como lidar com os deficientes. E, se acabaram de ter um irmão ou familiar deficiente, não entrem em pânico!!! Eu, pessoalmente, não só não imagino a minha vida se o Rafael não tivesse nascido como acho muito bom que ele tenha nascido! Graças ele, habituei-me a aceitar as diferenças! Algo muito importante, porque o Rafael sem dúvida ensina muitas coisas às pessoas que passarem algum tempo com ele, talvez mais do que nós lhe ensinamos. Na verdade, a ingenuidade dele e o amor que ele é capaz de sentir por qualquer pessoa (desde que ela o trate bem e como igual, porque ele também tem noção dessas coisas) são sem dúvida gratificantes. A maneira com ele vive o seu dia-a-dia sem ligar ao que pensam dele, feliz, fazem que eu chegue a pensar que ele é melhor do que nós, porque se no mundo existissem mais casos como o dele, haveria sem dúvida mais mais iguadade e lições de vida. E o mundo seria um local melhor. Por isso, mudem as vossas opiniões dos deficientes!!! Eles têm mais para vos ensinar do que vocês pensam!!!
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